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30 de agosto de 2010

Os Perigos da Secularização no Cristianismo


A palavra “secularização” vem do latim saeculus (século), e contrasta o agora com a era vindoura. A secularização, portanto, é a filosofia de vida que prioriza o agora em detrimento do que é eterno. A secularização é o movimento crescente de anulação do que é sagrado, destinado à glória de Deus, substituindo pelo secular o que é mais interessante agora.

A secularização é um processo de mundanização, transformando aquilo que é urgente, a busca a Deus, em coisa sem importância. Importante agora é curtir a vida e se divertir. A secularização nos faz contentar com as alternativas da era presente, sem nos importar com as promessas de satisfação e gozo futuros. A secularização tem atingido o cristianismo atual, conforme a descrição que se segue.

1. A Bíblia

A Bíblia, mediante a secularização, se torna um livro irrelevante, não lido, não praticado e alvo de descrédito. A secularização faz com que a Bíblia receba a mesma classificação de um outro livro qualquer, limitando a noção de sua inspiração divina, ou até mesmo suprimindo-a. Na secularização, a Bíblia recebe críticas desconstrucionistas, as quais buscam minimizar a força dos relatos das obras de Deus, pondo os milagres em descrédito. A era presente ganha força como referencial para interpretação dos relatos bíblicos. Por exemplo, se hoje não vemos pessoas andando por sobre as águas, então a narrativa de Jesus andando por sobre as águas é apenas uma estória mitológica, uma lenda imaginária. No processo de secularização, as pessoas preferem dar crédito a pressuposições naturalistas (evolucionismo) a crer na veracidade dos relatos bíblicos sobre a criação do mundo.

2. Ética

A ética secularista também não refletirá o padrão revelado na Escritura Sagrada. Se a Bíblia não é referencial seguro dentro do sistema secularizado, também os mandamentos bíblicos ficam completamente sem relevância. Mandamentos bíblicos que claramente tratam do mundanismo, da busca pela satisfação carnal, através de festas mundanas, do sexo livre, do consumismo, da literatura pornográfica, de programas de televisão e de filmes que não trazem edificação, através de sites da Internet impróprios, se tornam sem importância e desprezados. A ética secularista ensina a fazer o que dá vontade. Se você deseja, então é legítimo. A Bíblia não ensina assim. A Bíblia diz que “todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convém” (1Co 6.12). Também diz que a amizade do mundo é inimizade contra Deus (Tg 4.4), e que quem ama ao mundo não provou do amor do Pai Celeste (1Jo 2.15). Jesus disse: “aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele” (Jo 14.21).

3. Comportamento

Se a secularização se recusa a ouvir os mandamentos de Deus e os julga irrelevantes, logo, o comportamento das pessoas secularizadas refletirá um padrão que não provém da Bíblia. Um indivíduo secularizado não se importa de falar palavrões e de contar piadas indecentes. Uma pessoa secularizada não se importa em usar roupas com decotes escandalosos, exibindo partes do corpo que incitam a sensualidade. Também a secularização semeia a descrença, fazendo com que as pessoas vivam como se Deus nem existisse, como se ele não estivesse ao nosso lado contemplando os maus e os bons. Por esta razão, o juízo de Deus é completamente ignorado e o temor de Deus inexistente. O secularizado dá golpes no mercado, faz negócios ilícitos, sonega impostos, deixa de devolver o dízimo porque o empregou em coisas do aqui e do agora, para satisfazer o desejo de ter. O homem secularizado olha de modo inconveniente para a mulher do seu próximo, a mulher secularizada se deixa levar pelo devaneio de um coração carregado de paixões mundanas. A secularização faz com que uma pessoa troque sem vexames o santo culto a Deus pelo estádio de futebol ou outro entretenimento qualquer, em clara violação do quarto mandamento, de guardar o dia do Senhor. Não somente isso, mas até mesmo trabalhos semanais da igreja deixam de ser motivo do interesse do secularista em troca de outros cuja relevância é duvidosa e até mesmo reprovável. Em resumo, trocar um trabalho da igreja por momentos de diversão sejam lá quais forem, é fazer uma opção clara por coisas do aqui e do agora em detrimento daquelas que são relevantes aos olhos de Deus.

4. Adoração

A adoração no ambiente secularizado se torna pretexto para entretenimento e promoção pessoal. A secularização admite coisas no culto que a Bíblia não recomenda e muitas vezes até condena claramente. Um culto secularizado admite a dança sensual, a performance artística, as palmas para Jesus, a falta de ordem e decência, a irreverência, as mensagens que não brotam de interpretação fiel das Escrituras, o som ensurdecedor, músicas com letras em desacordo com o ensino da Palavra de Deus, o ecumenismo e o sensacionalismo mediante promoção de fenômenos espetaculares.

5. Evangelização

A secularização elimina por completo qualquer envolvimento com a evangelização, visto que as pessoas secularizadas só pensam no agora e não em ser instrumentos de Deus para a salvação dos perdidos. A secularização faz com que as pessoas não tenham tempo para evangelização. Elas só pensam nelas. Não se preocupam em compartilhar a mensagem do evangelho, porque, afinal, “para quê falar de vida eterna se o que me importa é o agora?” Um dia no shopping se torna muito mais atraente do que uma tarde na rua evangelizando as pessoas ou distribuindo folhetos. As programações de socialização acabam ganhando preferência em relação a eventos evangelísticos. Os secularistas nunca contribuem com missões, mas sempre investem muito dinheiro em coisas supérfluas e sem urgência (carro, casa, jóias, roupas, etc.). Conseqüentemente, as igrejas secularizadas mínguam a cada ano e acabam fechando as portas, se não passarem o resto da história engatinhando espiritualmente.

6. Comunhão

A secularização, por fim, sepulta a comunhão da igreja no cemitério da indiferença e da insensibilidade. As pessoas secularizadas não ligam mais umas para as outras. Aliás, demonstram alguma preocupação na hora de falar mal. Então elas não se preocupam umas com as outras no bom sentido da expressão, mas se ocupam em maldizer e a tecer comentários maldosos. A comunhão morre dentro da secularização porque as pessoas perdem a visão do significado da igreja como corpo de Cristo. Se esquecem que possuem a vida eterna em comum, como o sangue que irriga todo o corpo. O sacrifício de Jesus une as partes individuais tornando-as uma só alma, indivisível. Mas o secularista insiste em semear divisão e facção dentro da igreja, porque não se lembra mais que a herança celestial e a eternidade serão dados ao povo de Deus, que será um só rebanho de um só pastor.

Conclusão

Talvez você esteja lendo isto preocupado por ter se enquadrado nas descrições daqueles que são afetados pela secularização. Isto não deve desanimá-lo. Lembre-se que todos nós estamos inseridos numa sociedade altamente secularizada. É normal que a secularização nos atinja de alguma forma. Agora, o que não pode acontecer é uma acomodação ao sistema. “Não vos conformeis com este século”, disse Paulo em Romanos 12.2. Não devemos tomar a forma do mundo, vivendo só para o agora, deixando de lado a visão da eternidade, que é o que realmente importa. Temos é que renovar a nossa mente com as coisas de Deus, manifestadas na sua Palavra. Temos que revigorar nossa fé a cada dia com o alimento da esperança: a Bíblia. Não podemos abrir espaço para que nossa visão contemple somente as coisas ilusórias do presente século. Do contrário, seremos como Demas, o qual, “tendo amado o presente século” (2Tm 4.10), abandonou a Cristo, e a Paulo, e foi cuidar dos seus próprios interesses na cidade de Tessalônica.

Querido leitor, esta é a razão porque muitos têm abandonado a igreja hoje e corrido atrás de satisfação nas coisas do mundo: não conseguem mais crer e olhar para a eternidade que nos aguarda. Só têm diante de si a ilusão do presente. Esqueceram-se de que fomos criados neste mundo para glorificar a Deus e gozá-lo para sempre. Em contrapartida, tentam em vão satisfazer sua alma com as coisas do aqui e do agora. Que Deus tenha misericórdia de nós e nos dê visão nítida e constante da eternidade. Que ele nos livre dos perigos da secularização, a fim de que não sejamos como o cavalo ou a mula, sem entendimento, mas que tenhamos nossa mente constantemente esclarecida pela palavra do Senhor, a qual vive e é permanente. Amém.

Pr. Charles

26 de agosto de 2010

MUNDO IMUNDO!

Recentemente li um texto humanista escrito por um pastor cuja confiança no mundo beirava o panteísmo. Trata-se de um defensor do teísmo aberto que vê o mundo como um ambiente inocente e belo do ponto de vista espiritual. Diante disso, senti vontade de compor mais uma poesia. Reconheço que não é lá essa coisa toda, não sou poeta, mas, pelo menos, é sincera. Então, vamos lá:

Mundo mal, mundo vil, mundo indecente.
Para que sorrir? Para que esperar? Para que estar contente?
Que esperança há em ti, mundo imundo, carregado de iniqüidade?
Só há desconfiança na confiança que é volubilidade.
Por que buscar alegria numa bondade mentirosa?
Numa fonte asquerosa que maquina o mal?
Não há esperança, não há amor, não há sinal.
E por mais que eu tente achar no tal,
Decepciono-me por buscar água límpida na fonte estagnada, imoral.

Meus olhos devem te contemplar, oh Senhor!
Olhos da maldade que olham a grandeza de um olhar de amor.
Não perder tempo, mas ter tempo para te contemplar pela fé.
Sim, minha esperança é Deus, soberano Senhor.
Que do enraizado faz o peregrino, andarilho vencedor.
Sim, minha esperança é Deus, soberano Redentor,
Que do destruído faz um construtor, pedreiro forte.
Pois dos ruídos da perdição, que rui ao som da morte,
Posso clamar pela esperança sob o som triunfante do Deus vivificante.

Com o que se alegrar? Não com o efêmero abjeto, mas com o Eterno sublime,
Que um miserável pecador, ao escolher, redime.
Não espero por este mundo aborrecível, não há surpresa.
Somente o Senhor é o motivo da minha alegria, que grandeza.
Miserável é aquele que tenta poetizar num mundo sem proeza.
Maldito o que confia na ruína, cuja esperança firma-se na surpresa.
Bendito é o Senhor, fonte da poesia, cacimba do verso.
És o Redentor, meu escolhedor, Senhor do universo.
Como bradar? Apenas exclamando, não desabafando, mas acertando:

Mundo mal, mundo vil, mundo indecente,
De ti saí, dissabor que não me instiga.
Devo sorrir, devo esperar, devo estar contente.
Que esperança na certeza da imortalidade eterna!
Só há confiança e alegria sempiterna.
Por que buscar alegria numa bondade devida?
Porque disponho da fonte que irrompe a vida!
Deus bondoso, precioso, cuja graça estira,
A mim escolheste e te achegaste, Amor que me inspira.

Sola Scriptura Alfredo de Souza

23 de agosto de 2010

O Crescimento Evangélico no Brasil: Verdadeiro ou Falso?



Metade do Brasil será evangélica?

Este foi o título do artigo publicado pela Revista Época em junho do ano passado. Baseando-se em uma estimativa feita pela SEPAL, Época informou aos seus leitores que até 2020, 50% da população brasileira será evangélica. Segundo a revista, os benefícios para o país como resultado do milagre da multiplicação dos evangélicos contribuiria pelo menos para três coisas: (1) a diminuição do consumo de álcool e drogas; (2) o aumento da escolaridade, uma vez que desde pequenos os filhos dos crentes são ensinados a ler a Bíblia; e (3) a diminuição de lares desfeitos, porque a família é prioridade para esse segmento.

De acordo com o  IBGE, o Brasil apresenta atualmente uma população de 192.304.735 habitantes. A previsão da SEPAL para o Censo 2010 é que os evangélicos chegarão à casa dos 36 milhões. Se isto for confirmado, tal percentual será bastante significativo, pois, não faz muito tempo, dificilmente encontraríamos dois evangélicos na mesma sala de aula, universidade, trabalho, governo, etc.

Como a representação evangélica em nosso imenso país sofre variações, esses dados parecem pouco prováveis em nosso dia a dia. Entretanto, em eventos de grande repercussão como grandes concentrações e shows gospel, tais números de fato se tornam reais. A Marcha para Jesus é um bom exemplo disso. Na edição 2010 da Marcha em São Paulo, cerca de dois milhões de evangélicos seguiram o trio elétrico liderado pelo casal Estavam e Sônia Hernandes da Igreja Renascer em Cristo. Isso mesmo. Milhões de evangélicos seguiram o casal que há pouco tempo estava detido por tentar burlar as leis americanas escondendo dólares dentro de uma Bíblia. Eles oravam, cantavam e dançavam movimentados por artistas gospel, declarando que o Brasil é do Senhor Jesus.

O Brasil é do Senhor Jesus! Mas, será que é mesmo?

Embora esses números pareçam reais, infelizmente não refletem a realidade dos fatos. Como assim? A razão é pura e simples: para Deus números quantitativos nem sempre implicam resultados qualitativos.

Época atribui a flexibilização da verdade como fator preponderante para o assustador crescimento dos evangélicos brasileiros. Isso deveria nos deixar de orelha em pé. Os cristãos se tornaram menos rígidos e mais tolerantes aos valores do mundo. Cristo deixou de ser o Redentor que conduz o pecador aos Céus transformando-se no servo pronto a atender as exigências consumistas dos crentes famintos por prosperidade material. Qualquer semelhança com João 6.22-71 não é mera coincidência!

Cristianismo sem Cristo

Na realidade, o afrouxamento da verdade está produzindo um cristianismo sem Cristo, outra religião totalmente diferente do evangelho. Veja só:

(1) Se o crescimento evangélico no Brasil contribuirá para a redução do consumo de álcool e drogas, por que muitos crentes testemunham sua conversão, mas não abandonam os seus antigos vícios? As celebridades, por exemplo, afirmam ser evangélicas, mas não mudam de vida, praticando os mesmo vícios. ”O que eu faço não tem nada a ver com a minha religião”, elas dizem.

(2) Se o crescimento evangélico no Brasil contribuirá para a redução do número de divórcios, por que o número de divórcios cresce entre os cristãos brasileiros? Por que os pastores e membros de igreja casam e "descasam" sem nenhum temor a Deus, adulterando abertamente? Por que o sexo antes do casamento é livremente praticado por muitos jovens e moças? Por que todos pregam, ensinam, evangelizam, dirigem grupos de louvor como se nada tivesse acontecido. Definitivamente isso não é priorizar e preservar os valores bíblicos para a família. Ou você acha que é?

(3) Se o crescimento evangélico no Brasil contribuirá para o aumento da escolaridade (i.e, educação, civilidade), por que o índice de analfabetismo bíblico nas igrejas é tão grande? Por que os evangélicos não influenciam, mas são influenciados? Por que os políticos se corrompem e ainda oram guardando em suas cuecas e meias o dinheiro público desviado? E mesmo quando são desmascarados e processados, se defendem dizendo que estão sofrendo por Jesus Cristo?

Perceba que o abandono da verdade, que é a Palavra de Cristo, não produzirá verdadeiros seguidores do evangelho. Por essa razão o fraco impacto espiritual e moral do evangelho em nossa sociedade é terrivelmente assustador.

E a Bíblia com isso?

Nosso Senhor Jesus Cristo nos deu um mandamento: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações” (Mt 28.19). Mas, de que maneira devemos evangelizar ou proclamar o Reino de Deus? Declarando palavras de ordem em shows gospel ou Marchando para Jesus? Recebendo supostas curas e bênçãos de artistas que se apresentam como “profetas” modernos? Abrindo as portas para o mundo e absorvendo seus ímpios valores? Absolutamente, não! Cristo nos disse, façam discípulos (cristãos ou evangélicos) “… ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mt 8.20). A teologia reformada chama isso de cristianismo experimental. A credibilidade do evangelho depende do nosso testemunho (cf. Cl 4. 5-6).

Os nossos governantes, vizinhos, parentes e amigos, somente compreenderão o verdadeiro sentido da vida, da paz e alegria cristã, se forem ensinados (evangelizados) segundo a Palavra de Deus a mudarem de vida, arrependendo-se de seus pecados e crendo no Redentor. Enquanto o Evangelho não for ensinado com fidelidade, a Igreja se misturar politicamente com o Estado em busca de favores e poder, o analfabetismo bíblico for crescente, falsas doutrinas produzirem falsas conversões, o povo evangélico brasileiro será como uma árvore oca, sem frutos, fundamentos ou raízes. Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama, disse Jesus (Jo 14.21). O puritano Matthew Henry disse que “a maior prova de nosso amor a Cristo é a obediência às leis de Cristo... O amor é a raiz; a obediência é o fruto”.

Concluindo, não devemos ser contrários ao crescimento numérico da Igreja, pois inúmeras passagens bíblicas e a própria história demonstram que quando o evangelho foi pregado com fidelidade muita gente se converteu de verdade, abandonando suas antigas práticas e influenciando (não sendo influenciado) todos ao seu redor. Contudo, compete à Igreja plantar e regar, isto é, cumprir a ordem de Jesus fazendo discípulos, lembrando sempre que o verdadeiro e substancial crescimento é dado pelo Senhor (1Co 3.6,7). “Em qualquer avivamento bíblico, eleva-se o padrão; ele não fica suspenso enquanto outro tipo de cristianismo é introduzido” (Iain Murray).

Alan Kleber


19 de agosto de 2010

A verdade, ou verdades?

A Escritura Sagrada exige que quando possível tenhamos paz com todos os homens, mas nunca em detrimento da verdade (Rm 12:18). No comum e corrente discurso de tolerância, inclusive no meio evangélico, repreender é sinônimo de desamor e arrogância. Não seja ingênuo, isto é resultado da mentalidade cultural predominante! É engraçado como todos reivindicam a verdade dos anunciantes, professores e políticos, e esta independentemente do seu grupo teórico,[1] exige-se que todos sejam correspondentes aos fatos. A inexatidão ou incoerência é um pecado imperdoável quando se afeta o bolso!

Mesmo entre relativistas teóricos, que querem fazer areia da verdade, existem momentos de contradições práticas. Imagine como exemplo o Cristianismo, se ele é verdadeiro, então, todas as demais religiões que o contradiz são necessariamente falsas, e neste caso não é possível existir um meio termo, pois isto seria sincretismo, e conseqüentemente, a negação da fé cristã. Se o relativismo for aplicado ao discernimento da verdade, aceitando a pacífica convivência de inverdades e contradições como sendo apenas meras interpretações diferentes da verdade, então, estaremos negando Àquele que é a fonte da verdade e lançando o fundamento do caos em nossas mentes! Dentro da mesma linha de pensamento, se por hora, deixarmos a epistemologia e, nos voltarmos para a ética, teremos um problema prático ainda maior, porque contradições não são apenas equívocos, ou confusão semântica, de fato são mentiras e dependendo do caso, é puro dolo. Olhe que alguém pode ter que indenizar, ou até ser preso! Por implicação, podemos concluir que, uma falsa idéia sobre a verdade oferece um conceito falso da vida. Por isso Gordon H. Clark reconhece que
não existe uma antítese entre verdade intelectual e moralidade como superficialmente algumas mentes imaginam. Uma mentira, que é a negação da verdade, é imoral. Ela é pecado por pensar incorretamente. (...) Não pode existir tal coisa como moralidade, a menos que existam verdadeiros princípios morais. Moralidade depende da verdade.
[2]

Numa reação imprópria os pós-modernistas acusam de orgulho a convicção de uma verdade absoluta. Posturas firmes, inteligentemente bem articuladas, evidenciadas pela pesquisa e de polida argumentação, sofrem a acusação de que a segurança conceitual é mero pedantismo sectário. Que absurdo! O pluralismo acusa a convicção de soberba. É um erro usar a palavra arrogância para se referir à convicção, e a humildade significando dúvida. Perceba que está na moda ser humilde, isto é, ter incertezas até do óbvio. Repete-se o que G.K. Chesterton escreveu há um século. Ele declara que
o que sofremos hoje é de humildade no lugar errado. A modéstia se afastou do setor da ambição e se estabeleceu na área das convicções, o que nunca deveria ter acontecido. Um homem devia mostrar-se duvidoso a respeito de si mesmo, mas não acerca da verdade; isso foi completamente invertido. (...) Existe uma humildade característica de nossa época; acontece, porém, que ela é uma humildade mais venenosa do que as mais severas prostrações dos ascéticos... A velha humildade fazia que o homem duvidasse de seus esforços, e isto, por sua vez, o levaria a trabalhar com mais empenho. Mas a nova humildade torna o homem duvidoso a respeito de seus alvos; e isto o faz parar de trabalhar completamente... Estamos a caminho de produzir uma raça de homens tão mentalmente modestos que serão incapazes de acreditar na tabuada de multiplicação.
[3]

É bom esclarecer que quando ataco o pós-modernismo não estou, em contrapartida, aceitando ingenuamente o ultrapassado modernismo. No desdobramento da história, o período anterior ao que vivemos, não foi melhor para o Cristianismo do que o presente. Numa leitura esclarecedora Os Guiness observa que “onde o modernismo era um manifesto de autoconfiança e auto-bajulação humana, o pós-modernismo é uma confissão de modéstia, se não de desespero. Não há verdade nenhuma; somente verdades. Não há nenhuma grande razão; somente razões.”[4] O conhecimento e o discernimento da verdade era considerado como possível no modernismo, e é este ponto de concordância que acentuo.

Numa conferência no Brasil, John MacArthur Jr. declarou que “a heresia vem montada nos lombos da tolerância”![5] De fato, os ventos frios do engano não vêm como tormentas, mas como suaves brisas entre as frestas da janela dos desatentos livres pensadores. O abandono da Escritura, como única fonte e regra de fé e prática, abre para as mais extravagantes possibilidades de desvios.[6] Para ilustrar esta afirmação basta apenas que recordemos do movimento teológico liberal no século XIX. Não esqueçamos que a preocupação destes teólogos era abandonar o Cristianismo clássico e substituí-lo, por um novo sistema de crenças, transformado e adaptado para uma nova realidade, relevante aos reclames de uma sociedade que não queria submeter-se ao senhorio de Cristo, mas, ansiava os benefícios da religião cristã e da filosofia naturalista. Entretanto, ao adulterar o evangelho, o liberalismo teológico perdeu a sua essência cristã, despojando-se dos seus fundamentos. Repudiando a teologia liberal, o neo-ortodoxo H. Richard Niebuhr descreveu a sua essência, afirmando que ela apregoa “um Deus sem ira que levou homens sem pecado a um reino sem julgamento pelo ministério de um Cristo sem cruz.”[7] O discurso liberal de tolerância acompanhava o esforço de adaptar a antiga fé cristã. Apesar de toda linguagem e terminologia da teologia clássica, tanto o liberalismo como a neo-ortodoxia, estão vazios da semântica divina, bem como dos seus resultados sobrenaturais.

O Senhor Jesus é o nosso exemplo de humildade e de vigorosa fidelidade à verdade (Jo 13:14-15). Antecipadamente o profeta Isaías declarou que em Cristo “dolo algum se achou em sua boca” (Is 53:9). O nosso redentor, que é o revelador da verdade, disse que: “se vocês permanecerem firmes na minha palavra, verdadeiramente serão meus discípulos. E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará” (Jo 8:31-32, NVI; veja também Mt 11:27; Hb 1:1-3). Em momento algum, o Filho de Deus foi tolerante com os falsos mestres de seus dias (Mt 23:1-36), nem os apóstolos adotaram esta postura com a mentira e o engano. Mas, infelizmente o evangelicalismo sofre duma crise de infidelidade. Como resultado da influência do pós-modernismo no meio das igrejas evangélicas James M. Boice e Philp G. Ryken constatam que
o que uma vez foi falado das igrejas liberais precisa ser dito das igrejas evangélicas: elas buscam a sabedoria do mundo, crêem na teologia do mundo, seguem a agenda do mundo, e adotam os métodos do mundo. De acordo com os padrões da sabedoria mundana, a Bíblia torna-se incapaz de alimentar as exigências da vida nestes tempos pós-modernos. Por si mesma, a Palavra de Deus seria insuficiente de alcançar pessoas para Cristo, promover crescimento espiritual, prover um guia prático, ou transformar a sociedade. Deste modo, igrejas acrescentam ao simples ensino da Escritura algum tipo de entretenimento, grupo de terapia, ativismo político, sinais e maravilhas - ou, qualquer promessa apelando aos consumidores religiosos. De acordo com a teologia do mundo, pecado é meramente uma disfunção, e salvação significa desfrutar de uma melhor auto-estima. Quando esta teologia adentra a igreja, ela coloca dificuldades em doutrinas essenciais como a propiciação da ira de Deus, substituindo-a com técnicas e práticas de auto-ajuda. A agenda do mundo é a felicidade pessoal, assim, o evangelho é apresentado como um plano para a realização pessoal, em vez de ser a caminhada de um comprometido discipulado. Para terminar, vemos que os métodos do mundo nesta agenda egocêntrica são necessariamente pragmáticos, sendo que as igrejas evangélicas estão se esforçando a todo custo em refletir o modo como elas operam. Este mundanismo tem produzido o ‘novo pragmatismo’ evangélico.
[8]

Esta é uma briga que terá continuidade. Entretanto, apenas precisamos permanecer firmes na verdade, ou seja, persistentemente fiéis à Escritura Sagrada (Gl 1:6-9; 2 Ts 2:7-12).

Notas:
[1] Sugiro a leitura de R.C. Sproul, Defendendo sua Fé (Rio de Janeiro, CPAD, 2007), pp. 31-35. Sem entrarmos em discussão, confesso que adoto a teoria da coerência. Assim, a lei da não-contradição, que é um elemento essencial para esta teoria, diz que não é possível coexistir duas afirmações contrárias no mesmo sentido, ao mesmo tempo, e ainda assim, serem igualmente verdadeiras.
[2] Gordon H. Clark, The Johannine Logos (Unicoi, The Trinity Foundation, 2004), p. 68.
[3] G.K. Chesterton, Orthodoxy (Garden City, Doubleday, 1957), pp. 31-32.
[4] Os Guinnes, Fit Bodies, Fat Minds (London, Hodder & Stoughton, 1994), p. 105.
[5] Peço perdão aos leitores quanto à fonte desta citação, pois ela se encontra numa palestra realizada por Dr. John MacArthur Jr. num dos congressos da Conferência Fiel, que pode ser encontrada no site da Editora Fiel.
[6] Este espírito retorna numa nova roupagem. John MacArthur Jr. observou que “aparentemente o maior medo que o movimento evangélico tem hoje em dia é de ser visto como posicionado em desarmonia com o mundo”, in: Princípios para uma cosmovisão (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2003), p. 8.
[7] H. Richard Niebuhr, Kingdom of God in America (New York, Harper and Row, 1937), p. 103.
[8] James M. Boice e Philp G. Ryken, The Doctrines of Grace (Wheton, Crossway Books, 2006), pp. 20-21.

18 de agosto de 2010

O Drama da Palmada


“A vara e a repreensão dão sabedoria; mas a criança entregue a si mesma envergonha a sua mãe” (Pv 29.15)

As câmaras dos deputados e dos senadores aprovaram o projeto de lei que proíbe a “palmada”. Se os pais disciplinarem seus filhos através de palmadas, varadas e similares, a partir da sanção presidencial, e forem denunciados, poderão ser processados e condenados. Isso levanta uma série de questionamentos. Tem o governo direito de regular ou controlar a maneira como cada pai ou mãe resolvem governar sua casa e educar os filhos? De quem é a responsabilidade pelo descaso com os filhos? O que a Bíblia diz sobre a educação dos filhos através de punições com vara e palmadas?

“Disciplina” é a tradução do termo grego paidéia ou do hebraico mussar, e significa primordialmente “punição”, “castigo”, indicando claramente a correção com a vara. O objetivo da disciplina na criação dos filhos é moldar o caráter da criança ajudando-a a refrear seu desejo natural de rebeldia ou pecado. Pense: você ensinou seu filho a fazer birra, manha ou pirraça? Elas já nascem com essa tendência natural. É só questão de tempo, e a maldade se aflora sozinha. Uma criança não pode ficar entregue a si mesma, porque ela é pecadora. São terríveis as conseqüências quando os pais deixam os filhos à mercê de seus próprios desejos. Os pais devem necessariamente impor a ordem, a disciplina, o controle sobre os filhos, usando a vara para corrigir os desvios que ocorrem naturalmente. O texto de Provérbios 22.6 diz: “Ensina a criança no caminho que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele”. Esse texto não é tanto uma promessa; ele é também uma advertência aos pais. Se os pais ensinarem desde cedo, a criança guardará os valores bíblicos quando crescer. Mas se eles deixarem a criança entregue a si mesma, quando ficar velha, não se apartará do estilo de vida adquirido. Pais que deixam os filhos decidirem o que comer e o que vestir, onde e quando ir passear, pais que permitem aos filhos fazer birra, mal-criação e desobedecer, também os verão mais tarde dando golpes no mercado, indo a bailes, bebendo, fumando, usando drogas, tendo relações sexuais ilícitas, tudo porque elas se acostumaram a um estilo de vida autônomo e não foram corrigidas enquanto crianças.

A nova medida revela o interesse do Estado de interferir no âmbito dos lares. Isso não é bom, pois a responsabilidade pela educação dos filhos não é do governo, mas dos pais. Cada progenitor sabe das características de cada filho e como cada um deve ser criado. A decisão de como educar tem que ficar para os pais. O governo ignora o fato de que a disciplina forma um caráter nobre e responsável. Se essa lei pegar, no futuro, a sociedade será mais perversa ainda, as cadeias estarão superlotadas, o número de adolescentes que ficarão grávidas será cada vez maior, o vandalismo se alastrará e o consumo de drogas baterá recorde nacional. Mas aí será tarde demais. E quem vai assumir a responsabilidade? O governo não poderá ser disciplinado; nem os pais! E temos de cogitar filhos ameaçando denunciar os pais na justiça.

Querido leitor, esse assunto é questão de obediência ou à Palavra ou aos homens com suas leis absurdas. Então escolham obedecer ao Senhor, porque importa antes obedecer a Deus do que aos homens. “Não retires da criança a disciplina, pois, se a fustigares com a vara, não morrerá. Tu a fustigarás com a vara e livrarás a sua alma do inferno” (Pv 23.13,14). Mas cuidado! Não discipline na hora da raiva. Escolha uma varinha e a guarde longe do lugar onde você costuma disciplinar seus filhos. Até você buscá-la, a ira já passou e você disciplinará na medida certa. Vara também era instrumento de medida, o que nos ensina a não exceder em rigor. A disciplina tem que ser sempre em amor. E que nossos filhos cresçam em estatura e graça diante de Deus e dos homens! Amém!

Pr. Charles

13 de agosto de 2010

O Problema Pode Ser Você

Quem é aquele que nunca teve vontade de mudar o mundo?

Creio que todo ser humano sente, ainda que no âmago, o desejo de ser relevante e de se fazer ouvir, seja para levantar uma bandeira por uma causa social justa, seja para defender uma determinada bandeira política, ou até mesmo para ovacionar seu time de futebol.

Com o crente não é diferente, e nem deveria ser, afinal de contas temos a mais justa causa, a mais gloriosa bandeira e o mais santo objetivo.

Se como pessoa você sente que deveria ser ouvido para mudar o mundo, ainda mais como Igreja, quantas pessoas sentem que mereciam (e até tentam) ser usadas para ‘fazer diferença’ no meio em que estão inseridas.

Uma e outra coisa são causas nobres e justas. Logo, a pergunta é: por que você não consegue mudar o mundo, assim como a sua Igreja não possui a menor relevância na sociedade?

As respostas imediatas e acertadas apontam diretamente ao caminho da soberania de Deus, pois o vento sopra onde quer. Todavia, temo que muitos estejam se acomodando nessa afirmação, pois fiados nisto terminam por não perceber que existem fatores pelos quais o Deus Soberano não usa quem tanto quer ser usado.

Começarei com a Igreja. Não é de hoje o discurso e o clamor por um avivamento em nosso meio, assim como não são novidades as frustrações ministeriais devido à ausência deste avivamento tão sonhado!

Com base nisto, vejamos como está a Igreja (corpo) nos nossos dias. Hoje em dia, o sincretismo e o ecumenismo nunca foram tão livres e elogiados nas igrejas ditas evangélicas. Na maioria das vezes as mensagens se tornam cada vez mais moralistas e menos expositivas (vide o texto de Robério). Os conceitos de liberdade são substituídos pelos conceitos de legalismo ou de licenciosidade. A preocupação com a doutrina anda tão frouxa que muitos julgam de neo-radical os que se debruçam sobre as Escrituras em busca do genuíno conhecimento. A liturgia dos cultos está tão aberta às inovações que não há mais distinção entre o solene de uma igreja que prega a Cristo e as cerimônias místicas de magia e incorporação.

Como pode uma Igreja com tanta confusão influenciar os confusos que estão fora dela? Não há dúvidas de que quando eles chegarem a tais igrejas certamente encontrarão as mesmas mazelas, politicalha, sujeira e desprezo pela Palavra de Deus.

Então, o que precisamos mesmo é de uma mudança na própria igreja. Podemos até alimentar o desejo inicial de mudar o mundo, mas devemos fazer isso superarando o desafio de que a Igreja é feita por pessoas como eu e você, prezado leitor.

Como mudar a Igreja (para depois mudar o mundo) se muitos vivem de forma tão diferente daquilo que pregam? Como pode alguém que não abre mão de seus próprios pensamentos falar sobre aquele que ensinou dizendo “negue-se a si mesmo”? Como pode alguém, que se deleita no pecado às escondidas, querer convencer os outros de que devem buscar uma vida de santidade, uma vez que sem ela ninguém verá o Senhor?

Ao ler esse texto, espero que você possa refletir sobre o cristianismo composto pela grande massa de gente enganada pelos falsos mestres que ensinam aquilo que lhes dá lucro, além de engodarem e massagearem o ego das multidões. Aos fiéis resta apenas uma coisa: glorificar a Deus por fazerem parte do remanescente que será martirizado nesse mundo e se alegrar por terem sidos recebidos na glória.

Por outro lado, quem sabe, a sua própria consciência o tenha denunciado, uma vez que você busca mudar as coisas, mas quem mais precisa de mudança é você mesmo.

Será? O Problema pode ser você!

9 de agosto de 2010

Política: E a Bíblia com isso?

clip_image002[12]Declaração de um “político evangélico” – “Se um dia vamos dominar literalmente na terra, por que hoje não podemos começar com um antigosto?” Declaração de um “pastor” político.

Declaração de um pastor evangélico“Viver o cristianismo é a mais efetiva militância para a transformação social que Deus quer promover” .

As pessoas não sobreviverão, e muito menos prosperarão, sem que haja organização em suas vidas comunitárias. Esta organização em sua vida comunitária é a polis, um agrupamento de pessoas caraterizadas pelo senso de comunidade; e de polis derivou-se a palavra política. Assim, a política, em seu sentido mais amplo, sublinha e permeia a sociedade.

“Deus, o Senhor Supremo e Rei de todo o mundo, para a sua glória e para o bem público, constituiu sobre o povo magistrados civis que lhe são sujeitos e, a este fim, os armou com o poder da espada para defesa e incentivo dos bons e castigo dos malfeitores.” Cap. XXIII – Do Magistrado Civil. Confissão de Fé de Westminster. Do ponto de partida da compreensão cristã, há um único Deus, criador dos fins da terra, o presente Governante das nações e o Senhor ativo da história. O Deus que exige justiça e retidão dos homens em seus contatos uns com os outros na ordem social em geral – atividades econômicas, autoridade dos soberanos, justiça nos tribunais e na relação das nações umas com as outras.

Não há base bíblica para ações políticas institucionais promovidas pela igreja. A decisão sempre será do indivíduo participante da comunidade, como parte do seu serviço responsável ao Senhor. Daí é muito importante ter consciência cristã, para “escolher” nossas autoridades. Neste ano escolheremos o presidente da nação, os governadores dos estados, os senadores da República e os deputados estaduais e federais. Estas autoridades compõem a base do governo do nosso país. Além da responsabilidade de “escolha” das autoridades, devemos ser obedientes a elas, pois foram e serão instituídas por Deus (Rm 13.1); devemos sempre estar prontos para toda boa obra, e não devemos difamar ou polemizar (Tt 3.1-2), devemos orar e interceder pelas autoridades existentes e pelas que vão exercer seus cargos (1Tm 2.1-2).

Os crentes têm a liberdade de votar em quem quiser, esse é o princípio democrático que rege a nação brasileira. Os crentes não devem votar em quem tem propostas que são contra a Palavra de Deus, contra os princípios bíblicos. Percebe-se que não nos resta muita opção! Quanto a políticos evangélicos, creio não haver nenhum impedimento bíblico para eles, desde que façam política e leis pautadas nos princípios da ética cristã e do bem social, não só para defender os interesses pessoais da igreja.

Termino este artigo transcrevendo o seguinte pensamento:

“As leis de um estado devem fundamentar-se primariamente nos padrões morais aceitos pela maioria dos cidadãos, mas o amor cristão às leis de Deus revelado, mesmo que por uma minoria, serve como fermento que influência a comunidade toda. Assim, a presença da Igreja deve ser ativa positiva e responsável” (Eugene Clarence Gardner).

Síntese do Decálogo Evangélico do Voto Ético (Associação Evangélica Brasileira – AEVB).

1. O voto é intransferível e inegociável.

2. O cristão não deve violar a sua consciência política.

3. Líderes devem orientar sobre como votar com ética e discernimento.

4. Líderes devem ser lúcidos e democráticos.

5. Líderes não devem conduzir processos político-partidários dentro da igreja.

6. O fato de um candidato se apresentar como cristão não deve constranger ao voto.

7. Candidatos com postura ética contraditória não devem ser escolhidos.

8. O cristão deve considerar as propostas apresentadas pelos candidatos.

9. Dar mais valor ao candidato como indivíduo cristão do que ao seu partido.

10. Em questões políticas o líder da igreja local opina como um cidadão qualquer.

Eduardo H. Ferraz

 

5 de agosto de 2010

A Igreja e a Pregação Expositiva



Dentre as grandes crises que a igreja cristã contemporânea enfrenta talvez a mais séria esteja relacionada aos púlpitos das igrejas. Há uma grande multidão de famintos que freqüentam regularmente muitas igrejas, mas simplesmente não são saciados com a genuína Palavra de Deus pregada nos sermões semanais. De fato, muitos crentes verdadeiros têm demonstrado uma grande insatisfação com os pregadores modernos. Porém, apenas esse sentimento de insatisfação não é o suficiente. Uma igreja precisa orar e exigir que seus pastores ocupem seu tempo com o estudo, meditação, oração e preparação de sermões expositivos.

Mas, que tipo de pregação é essa, por que é tão importante, e, principalmente, que benefícios ela produz na igreja? Poderíamos definir como pregação expositiva aquela cujo objetivo é expor as verdades de Deus ensinadas em um texto específico da Bíblia e cujo tema, idéias principais, argumentação e aplicações são extraídas do próprio texto lido. Ou seja, ao invés de levar para um texto suas idéias, o pregador expõe fielmente o que o texto disse (primeira geração de ouvintes a quem o texto se dirigiu) e diz ao povo de Deus hoje.

Nesse tipo de pregação algumas características naturalmente serão evidenciadas. Primeiro, ela é essencialmente doutrinária, pois ainda que se baseie em um texto (ou textos!) utiliza outros textos da Bíblia para dar suporte à argumentação. Segundo, ela é cristológica, uma vez que o alvo da pregação é falar de Cristo, com Cristo e por Cristo. Jesus será o alvo da pregação, pois Ele é o “Autor e consumador da fé” (Hb 12:2) e o propósito de Deus é, através da pregação, nos tornar mais parecidos com Seu filho, Jesus Cristo. Terceiro, o pregador fala com autoridade, pois como embaixador divino não faz apenas um comentário do texto bíblico, ou simplesmente usa o texto como pretexto para dizer o que pensa, mas, diferentemente, expõe com fidelidade e autoridade a Bíblia para o povo de Deus. Ele compreende que quando a Palavra de Deus é pregada com fidelidade, Deus mesmo está falando ao seu povo, quer seja consolando-o, exortando-o, ensinando-o, ou educando-o na educação da Justiça (2Tm 3:16-17). Por último, ela é claramente experimental, pois não apenas o pregador busca em humildade viver o que prega, mas sabe que sua pregação será somente eficaz se os seus ouvintes forem afetados de forma prática pelas verdades ensinadas. Assim, diferente de uma homilia, sua pregação terá um caráter aplicatório, tanto para crentes como descrentes que o ouvem.

Obviamente esse tipo de pregação é importante porque a Palavra de Deus está sendo trazida com fidelidade a igreja. Por um lado, o pregador esconde-se atrás das Escrituras e decide nunca sair de lá durante seu ministério. Ele sabe que a pregação é nada mais, nada menos, do que a viva voz de Deus (viva vox Dei), e em lugar de entreter o público com estórias e piadas, o pregador sabe que seu papel não é pregar o que é popular, ou o que agrada ao povo, mas o que Deus ordena nas Escrituras. O grande imperativo bíblico, “Prega a palavra!” (2 Tm 4:2), reverbera em seu coração todas as vezes que ele se senta para preparar um sermão. Por outro lado, a igreja entende que a palavra pregada expositivamente é o único poder capaz de mudar vidas, uma vez que Deus mesmo está falando ao coração do seu povo e convertendo os ímpios através desse tipo de pregação. Os membros de uma igreja saudável se recusarão a comer palha, e o critério fundamental na escolha dos seus líderes será o de homens que manejam bem a palavra da verdade. Pois, se crêem que a Bíblia é a Palavra de Deus, estarão ansiosos para ouvi-la e dar-lhe a devida atenção.

Um resultado claro dessa centralidade da Palavra de Deus na igreja, sobretudo no púlpito, será o de produzir, em primeiro lugar, uma reavaliação do que significa ser uma “igreja saudável”. Igrejas enfermas são caracterizas por membresias onde a Palavra de Deus ocupa um lugar distante na vida e no culto dos seus membros. Por outro lado, a Bíblia é tida em alto estima em igrejas saudáveis, porque não somente lhes apresenta no que devem crer, mas, mais importante, em como devem crer. Doutrina e prática não serão duas realidades distantes, mas realidades inseparáveis na vida dos membros. Além disso, a pregação expositiva fornecerá o remédio certo para corrigir cada problema surgido no meio da igreja. Os membros apenas descobrirão a natureza, essência e características da verdadeira igreja e vida cristã através das próprias Escrituras. Igrejas enfermas, onde a pregação expositiva não é central, podem até ter aparência de igreja saudável, mas logo os sintomas da enfermidade se manifestarão (partidarismo, divisões, falta de testemunho de seus membros, etc.). De fato, igrejas enfermas podem até causar poucos problemas aos cristãos mais saudáveis que buscam um conhecimento bíblico por conta própria, mas causam um prejuízo terrível no crescimento e amadurecimento dos crentes mais novos e fracos. Pois, como pode haver crescimento, sem alimento? Como Lutero advertia seus ouvintes: “é dever dos pregadores e ouvintes, em primeiro lugar, e antes de qualquer coisa, atentar e ter plena certeza que sua doutrina vem realmente da verdadeira Palavra de Deus.”



Robério Odair Basílio de Azevedo

2 de agosto de 2010

Ide “por tanto”

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Quando o Senhor comissionou seus discípulos para serem testemunhas em todo o mundo (Mt 28.18-20), afirmou que toda a autoridade havia sido dada a ele e depois disso ordenou “ide, portanto, pregai o evangelho...”.

Não é necessário explicar que a palavra “portanto” é uma conjunção que significa “conseqüentemente”, ou seja, Jesus estava dizendo que como conseqüência de ter toda autoridade ele poderia enviar os discípulos por todo o mundo a fazer novos discípulos.

Ao olhar, entretanto, para o que tem acontecido no meio evangélico em nossos dias, fica claro que muitos têm pregado o evangelho “por tanto”, isto é, por um determinado valor. São abundantes os casos de pastores e preletores que têm cobrado ofertas (o que é uma completa contradição de termos, seria melhor usar cachês) para participar de (lê-se “se apresentar em”) um culto e pregar a Palavra de Deus.

Bem que eu gostaria de acreditar que os que assim procedem o fazem por ter entendido errado o “portanto” de Jesus, pois, se fosse simplesmente um problema de gramática, tudo se resolveria logo que uma explicação sobre o termo fosse dada.

Infelizmente o que de fato acontece é aquilo que Pedro falou tão claramente: “Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres” – que – “movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias” (2Pe 2.1a, 3a). Esses falsos mestres são descritos por Paulo como sendo “homens cuja mente é pervertida e privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro” (1Tm 6.5b).

Além de cobrar para pregar, alguns têm ainda gravado suas mensagens e colocado à venda com o discurso de que é para abençoar o povo de Deus. Será mesmo? Eles não abençoariam mais ao dizer que as mensagens podem ser copiadas e distribuídas? Mas, ao invés disso, colocam nos CDs a advertência de que pirataria é crime. Ainda que eles estejam corretos ao falar da pirataria, penso que isso mostra que a verdadeira preocupação não é com as vidas que supostamente seriam edificadas, mas com o bolso que continua se enchendo de dinheiro e que sofreria bastante caso as mensagens fossem copiadas ao invés de compradas.

É claro que o povo evangélico tem sua parcela de culpa nisso tudo. Ao supervalorizar alguns pastores televisivos e comprar de tudo o que é oferecido em nome de Deus, o “mercado religioso” é aquecido. Infelizmente, a igreja continua criando seus ídolos dia a dia. Se ninguém comprasse, não haveria como vender.

Aos que têm feito comércio com a Palavra, cabe a advertência de Paulo: “De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores (1Tm 6.6-10).

Acredito que muitos desses que “vendem” a mensagem devem ter começado sinceros, mas acabaram perdendo o foco por amor ao dinheiro, por isso, os que têm procurado honrar a Deus pregando o Evangelho a tempo e fora de tempo, sem pensar em recompensas financeiras, mas tendo em vista a exaltação do nome do Senhor, devem rogar para que ele os conserve íntegros.

A igreja deve obedecer à ordem de proclamar o Evangelho sem nunca se esquecer das palavras do Senhor Jesus: “De graça recebestes, de graça dai” (Mt 10.8).

Milton Jr.