Subscribe Twitter Twitter

29 de julho de 2012

E a Bíblia com o Bóson de Higgs?

O dia 4 de julho foi um dia de muitos holofotes voltados para a fronteira entre a França e a Suíça, onde está construído o LHC (Large Hadron Collider), que nada mais é que um túnel circular de aceleração de partículas atômicas, os hádrons, que são lançadas umas contra as outras a fim de produzirem outras partículas menores, as quais são captadas por um super detector energético capaz de separar cada partícula produzida pelo choque de hádrons (prótons e nêutrons). Nesse dia foi anunciada a descoberta do bóson de Higgs. Horas depois, a notícia foi alterada dizendo que era cedo para dizer se o que acharam era mesmo o bóson de Higgs. Horas depois, descobriu-se que se tratava de uma divulgação precoce que apontava para a falsidade das notícias.

Há muito interesse por trás dessas pesquisas. Primeiro, cerca de 18 bilhões de reais foram investidos na construção dessa supermáquina. Espera-se que ela dê resultados que justifiquem o alto investimento. Talvez por isso as notícias pululem de lá agitando a comunidade científica. No entanto, o interesse maior está girando em torno da descoberta da chamada partícula de deus. Por mais que os cientistas ateus procurem reiteradas vezes afirmar que fé e a ciência não andam juntas, a alcunha dada pelo físico Leon Lederman aponta o contrário – eles creem que existe algo que fornece massa a tudo o que existe: o bóson de Higgs (1).

É importante que se perceba o fundo pístico por trás das afirmações em torno da busca pelo bóson: partícula de deus, origem do universo, explicação e prova do big-bang, etc. O proponente da teoria da existência do campo/partícula capaz de fornecer massa a outras partículas, Peter Higgs, chegou a afirmar que era bom “ter a razão”, enquanto descobriam que os burburinhos nada mais eram que informações precipitadas e trocadas sobre os resultados da pesquisa. Ao final, chegou a dizer que não sabe para que serviria a descoberta do tal campo/partícula. É claro que é preciso lembrar que tudo o que dizem a respeito das funções do bóson de Higgs ainda deveriam ser confirmadas experimentalmente, o que é muito complicado. A física, nesse campo, não passa de raciocínios especulativos. Eles até afirmam sempre “isso explicaria”, “isso comprovaria” ou “tornaria evidente”, sempre conjugando os verbos na futuro do pretérito, que indica incerteza e dúvida.

Desde o arrefecimento do deísmo (2), no tempo das pesquisas em torno da teoria da evolução, nos séculos XVIII e XIX, o naturalismo (3) se tornou a cosmovisão preferida daqueles que supunham ser o universo um sistema fechado de causa e efeito, ou seja, as leis naturais causam efeitos e interações o tempo todo promovendo o funcionamento do universo tal como ele é, sem qualquer influência providencial externa, Deus, portanto, sem qualquer interferência divina no funcionamento do universo. No naturalismo, a causa primária de todas as coisas é a matéria. Por isso os críticos do ateísmo hodierno não perguntam se eles creem em Deus ou por que não creem em Deus, mas a que deus servem. Se alguém não afirma a existência de um Deus soberano e maravilhoso que criou e preserva o universo (motivo primário da adoração – Ne 9.6; Ap 4.11), então tem que atribuir a fonte de todas as coisas a outra coisa ou alguém. No caso do naturalismo ainda vigente, embora com outras matrizes ou lentes sobrepostas, a matéria existe por si só e é a causa primária de todas as coisas. Eu poderia levantar uma série de questionamentos, usando os argumentos da questão ética e do Intelligent Design, ou seja, de onde vem a noção do que é certo ou errado? Como os naturalistas explicam o fato de existirem dados, informações codificadas e algumas até decodificadas por trás dos detalhes da natureza, como o DNA – as sequências de moléculas que precisam seguir a sequência certa? Isso mostra a mente maravilhosa pensante que projetou tudo o que há. Você não olha para o motor de uma Ferrari e pensa “isso veio do acaso”. Cada mangueira, fio, parafuso, estrutura metálica e borracha possuem uma razão e foram cuidadosamente planejadas. Da mesma forma, o universo foi fruto de um planejamento e execução do Engenheiro-mor, com o objetivo de manifestar a sua glória (Sl 19.1).

A descoberta dessa partícula/campo de força, não deve trazer sombras de perigos sobre os crentes. Não precisam se preocupar se possíveis descobertas em torno do bóson colocarão em cheque a doutrina bíblica da criação divina de todas as coisas. O máximo que a teoria do bóson de Higgs faz é confirmar o que a Bíblia sempre disse: que o que é visível veio a partir do que é invisível (Hb 11.3: “Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem”). Enfim, eles gastaram 18 bilhões de reais para tentar achar a resposta para a pergunta: “de onde vem a matéria?” Se me dessem apenas um real, eu não apenas diria de onde vem a matéria, como diria também o nome do dono da mente absolutamente inteligente que projetou esse mecanismo e ainda diria qual era o seu objetivo final!

A história se repete: desejo de ser como Deus (causa da queda no Éden), torre de Babel (através da qual tentaram chegar ao céu com esforço próprio), a idolatria (porque adoram a criatura em lugar de adorar o Criador). Como resultado, atribuem a glória de Deus ao acaso. Os efeitos das especulações humanas fora da Bíblia são sempre os mesmos. Negam a doutrina da criação divina de todas as coisas, negam a providência, presumem assumir o controle do que é certo ou errado, sentem-se donos da razão, semi-deuses ou falsos deuses. Mas ainda que os homens a cobicem, glória pertence e sempre pertencerá a Deus! Que se prostrem diante dele e lhe rendam toda honra, adoração e louvor!

 Pr. Charles

Notas
(1) Bóson é uma classe de partículas e forças do modelo padrão de partículas da física quântica. O modelo padrão oferece uma tabela com os hádrons (prótons e nêutrons, formados por quarks) e léptons (elétron, múon, tau e respectivos neutrinos) e as forças de interação e ligação (fótons, glúons e bósons de força fraca e forte), mais o bóson de Higgs (hyperscience.com).
(2) O Deísmo é uma cosmovisão que enfatiza a transcendência de Deus e não em consideração a sua interação e influência na criação. Para os deístas, Deus criou as leis naturais que regem o universo e não interfere em seu funcionamento. O universo é um sistema fechado de causa e efeito (leia mais sobre isso no livro de James Sire, Universo ao Lado, United Press).
(3) Naturalismo é a cosmovisão que entende que a causa última de todas as coisas é a matéria. O naturalismo não fala de História Humana, mas de História Natural. O naturalismo ganhou força com a teoria da evolução de Charles Darwin.

7 de julho de 2012

Pensando alto sobre o UFC e afins...

UFC_BLOOD MMA VIOLENCE

Tivesse a frase “Vou acabar com a cara dele e com cada um dos dentes da boca” saído dos lábios de uma pessoa “qualquer”, logo seria taxada de violenta, mas na boca de Anderson Silva ela ganhou o status de “promoção do esporte”.

O lutador brasileiro, sempre “polido” em suas declarações, surpreendeu a todos nos dias que antecederam a luta de hoje à noite sua última luta ao fazer declarações bastante duras, chegando a afirmar que seu adversário “vai precisar de um cirurgião plástico”.

Antes que você conclua: “Lá vem mais um texto de alguém que não gosta de esportes”, preciso informar que isso não é verdade. Sempre gostei de esportes (apesar do “biotipo” atual... rs) e sempre gostei de artes marciais. Pratiquei por um bom tempo a capoeira (alguns não sabem que é a única arte marcial genuinamente brasileira) e por pouco tempo o taekwondo. Antes de minha conversão e até há bem pouco tempo eu era um admirador de UFC, MMA, Vale-tudo e afins, mas ultimamente, na tentativa de levar todo o meu pensamento cativo ao pensamento de Cristo, muitas coisas têm me incomodado, incluindo a empolgação de cristãos com tudo isso.

Começando pelas declarações cheias de ira, citadas no início, já temos um sério problema. No Sermão do Monte o Senhor Jesus ensinou a interpretar de forma correta a lei. Os fariseus, preocupados somente com a guarda externa dos mandamentos, entendiam, quanto ao homicídio, que o problema residia no fato de eles tirarem a vida de alguém. Fosse outro a matar, não haveria problema. Lembre-se de que, ao entregar Jesus ao julgamento de Pilatos, os fariseus ouviram do governante: “Tomai-o vós outros e julgai-o segundo a vossa lei” – ao que responderam hipocritamente – “A nós não nos é lícito matar ninguém” (Jo 18.31).

O Senhor corrige essa interpretação hipócrita da Lei afirmando: “Eu, porém, vos digo que todo aquele que [sem motivo] se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo” (Mt 5.22).

Já ouço alguém dizer: “Pastor, mas você é muito inocente mesmo... não vê que essas declarações são somente para promover a luta?” E eu já respondo: Isso não torna menos problemática a declaração, visto que a mentira, conforme o Senhor Jesus, procede do diabo (Jo 8.44).

Não consigo crer que o prazer pecaminoso de ver alguém ser surrado até sangrar, desmaiar e/ou até mesmo morrer se adeque à orientação paulina de que “tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso que ocupe o vosso pensamento” (Fp 4.8).

Para os cristãos presbiterianos, que é o meu caso, há ainda outra questão a ponderar. Somos uma igreja confessional, isto é, temos a Escritura como regra de fé e prática e adotamos como sistema expositivo de doutrina e prática a Confissão de Fé, o Catecismo Maior e o Breve Catecismo de Westminster[1]. Isso quer dizer que acatamos essa interpretação das Escrituras como fiel.

Na resposta à pergunta 136 do Catecismo Maior – “Quais são os pecados proibidos no sexto mandamento?” – temos:

“Os pecados proibidos no sexto mandamento são: o tirar a nossa vida ou a de outrem, exceto no caso de justiça pública, guerra legítima, ou defesa necessária; a negligência ou retirada dos meios lícitos ou necessários para a preservação da vida; a ira pecaminosa, o ódio, a inveja, o desejo de vingança; todas as paixões excessivas e cuidados demasiados; o uso imoderado de comida, bebida, trabalho e recreios; as palavras provocadoras; a opressão, a contenda, os espancamentos, os ferimentos e tudo o que tende à destruição da vida de alguém” (grifos meus).

Creio que não é preciso explicar que toda a violência desses “esportes” vai contra o que professamos como fé.

Em dias que até pastores têm tentado justificar o UFC e afins citando a “briga” entre Davi e Golias, é necessário dar ouvidos ao salmista que diz: “O Senhor põe à prova ao justo e ao ímpio; mas, ao que ama a violência, a sua alma o abomina” (Sl 11.5).

Milton Jr.


[1] O catecismo de Heildelberg, padrão de Fé de outras igrejas reformadas, também trata do sexto mandamento. Nele temos:

P.105. O que exige Deus no sexto mandamento?

R. Que eu não devo desonrar, odiar, injuriar nem matar o meu próximo por pensamentos, palavras, ou gestos e muito menos por ações, por mim mesmo ou através de outros; antes, devo fazer morrer todo desejo de vingança. Além disso, não devo me fazer mal nem me expor levianamente ao perigo. Por isso também o governo empunha a espada para impedir homicídios.

P.106. Mas, esse mandamento fala somente de matar?

R. Ao nos proibir de matar Deus nos ensina que detesta a raiz do homicídio, a saber: a inveja, o ódio, a ira e o desejo de vingança e que Ele considera tudo isso como homicídio.

P.107. Então, basta que não matemos o nosso próximo dessa maneira?

R. Não. Deus ao condenar a inveja, o ódio, a ira e o desejo de vingança nos ordena a amar os nossos inimigos como a nós mesmos, a demonstrar paciência, paz, mansidão, misericórdia e amizade para com ele, a protegê-lo do mal o tanto que pudermos e a fazer o bem até mesmo aos nossos inimigos.